O projecto “ Pelo Direito ao Parto Normal – Uma visão partilhada” nasce da percepção de um grupo de Enfermeiros Especialistas em Saúde Materna e Obstétrica de que a não existência de uma visão partilhada aos vários níveis de decisão política, profissional e organizacional são impedimento à concretização das metas delineadas no Plano Nacional de Saúde e do direito da mulher portuguesa ter uma gravidez e um parto normal.
Em consequência da consolidação progressiva das políticas de saúde em Portugal, que culminaram na melhoria dos indicadores de saúde materna e infantil e colocaram o nosso país ao nível dos melhores do mundo, verifica-se que, apesar de 90% dos partos acontecerem em hospitais do Sistema Nacional de Saúde, temos taxas de cesariana superiores a 20%, havendo a tentação de tratar todas as parturientes de modo rotineiro, com elevado grau de intervenção, mesmo nas situações de baixo risco obstétrico.
Muitos procedimentos usados durante o trabalho de parto aumentam a probabilidade da intervenção médica subsequente, como a evidência científica comprova e devem ser evitados sempre que não exista um motivo clínico específico que os recomende.
Por exemplo, a monitorização cardiofetal continua intra parto, na grávida de baixo risco, está associada ao aumento das cesarianas de emergência e não a ganhos em saúde a longo prazo, e o uso de analgesia epidural durante o trabalho de parto aumenta a probabilidade de uso de fórceps ou ventosa.
A preocupação, com a excessiva intervenção no trabalho de parto e no parto e com o aumento da taxa de cesarianas, é transversal à maior parte dos países, tendo a Organização Mundial de Saúde (OMS) emitido recomendações no sentido de definir “trabalho de parto normal” e identificar as práticas mais comuns utilizadas durante o parto, estabelecendo algumas normas de boas práticas na assistência ao parto sem complicações.
Importa entender que viver um parto activamente, ser autora do próprio evento e colocar no mundo o filho com as suas próprias forças traz à mulher uma onda doce de vitória, de capacidade, de força ímpar, de ápice de feminilidade, levando-a a sentir-se mais capaz de cuidar dos seus filhos e de enfrentar os desafios que encontrará pela vida fora.
Implicados na defesa do direito da mulher portuguesa a vivenciar o processo de nascimento dos seus bebes, em ambientes seguros, com cuidados de saúde e suporte apropriados e com o mínimo de procedimentos clínicos, propomo-nos construir um consenso entre obstetras, enfermeiros especialistas e representantes dos cidadãos sobre os conceitos, os princípios e as práticas promotoras do parto normal, que supor te o posterior desenvolvimento de uma Estratégia Nacional de Humanização do Nascimento.
Estamos certos de que, todos juntos, trabalharemos para que este objectivo se concretize.
Fonte: Para Mudar o Mundo é Preciso Mudar a Forma de Nascer, Blog
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