Maria José tem 33 anos e trabalha na área do marketing, numa grande empresa. É mãe da Joana, 7 meses, e conta-nos como o acompanhamento de uma doula alterou o forma como viveu a gravidez e o parto. Devo começar por dizer que tenho a grande vantagem de ter uma amiga que é doula. Portanto, antes de engravidar, já estava mais ou menos informada sobre esse serviço. Quando fiquei grávida e lhe dei a notícia, combinámos logo que ela seria a minha doula, que me acompanharia na gravidez e me prepararia para o parto. Como se fosse uma mãe Ainda não sabia bem o queria em relação ao parto, mas começámos desde o início a conversar sobre isso. Além de conversarmos, enviava-me textos que considerava importantes para eu ler, vídeos ou pequenos filmes e eu fui ficando a par das minhas opções e do que se passava nos hospitais. Ela não fez qualquer pressão, apenas me foi informando, com base em estudos, com base na realidade de outros países, sobre o parto como um processo natural, para o qual estamos preparadas, enquanto mulheres. O parto em casa começou a surgir para mim como a melhor opção até porque podia ser acompanhada, para além da doula, por uma parteira que me daria toda a segurança. Tomei esta decisão mais ou menos a meio da gravidez, de uma forma muito pacífica. Tive uma gravidez muito tranquila e acho que isso também se deveu ao facto de ter tido o acompanhamento da doula. Claro que também ia às consultas com a obstetra e tinha o contacto dela, mas é diferente o tipo de acompanhamento. Para mim, a doula é quase como se fosse uma mãe, numa altura em que estamos muito vulneráveis. Transmitia-me sempre muita tranquilidade, respondia às minhas dúvidas, ouvia os meus receios... Saber que podia ligar-lhe a qualquer hora da noite ou do dia deixava-me muito segura. Com um médico nunca há essa intimidade. Acho que é isso, cria-se mesmo uma relação de intimidade. Menos medo e mais confiança Penso que hoje estamos - era como eu me sentia - muito longe da experiência da gravidez e do parto. Quando se engravida corre-se para um médico e pômo-nos nas mãos dele. Tudo é medicalizado, tudo é um acontecimento clínico. Esta é a atitude normal na nossa sociedade perante um acontecimento que é tão natural! Agora começa a haver outra abertura a outras formas de encarar as coisas, mas ainda é tudo novo. Como se o natural tivesse deixado de ser normal. Acho que desaprendemos muitas coisas nesta área e isso é triste. A maior parte das pessoas não sabe o que é um parto natural e acha estranho que alguém o desejo. Isso é que é muito estranho, para mim.
21 março, 2010
«A doula é como se fosse uma mãe»
Um testemunho na primeira pessoa de quem teve por perto uma doula...
Maria José tem 33 anos e trabalha na área do marketing, numa grande empresa. É mãe da Joana, 7 meses, e conta-nos como o acompanhamento de uma doula alterou o forma como viveu a gravidez e o parto. Devo começar por dizer que tenho a grande vantagem de ter uma amiga que é doula. Portanto, antes de engravidar, já estava mais ou menos informada sobre esse serviço. Quando fiquei grávida e lhe dei a notícia, combinámos logo que ela seria a minha doula, que me acompanharia na gravidez e me prepararia para o parto. Como se fosse uma mãe Ainda não sabia bem o queria em relação ao parto, mas começámos desde o início a conversar sobre isso. Além de conversarmos, enviava-me textos que considerava importantes para eu ler, vídeos ou pequenos filmes e eu fui ficando a par das minhas opções e do que se passava nos hospitais. Ela não fez qualquer pressão, apenas me foi informando, com base em estudos, com base na realidade de outros países, sobre o parto como um processo natural, para o qual estamos preparadas, enquanto mulheres. O parto em casa começou a surgir para mim como a melhor opção até porque podia ser acompanhada, para além da doula, por uma parteira que me daria toda a segurança. Tomei esta decisão mais ou menos a meio da gravidez, de uma forma muito pacífica. Tive uma gravidez muito tranquila e acho que isso também se deveu ao facto de ter tido o acompanhamento da doula. Claro que também ia às consultas com a obstetra e tinha o contacto dela, mas é diferente o tipo de acompanhamento. Para mim, a doula é quase como se fosse uma mãe, numa altura em que estamos muito vulneráveis. Transmitia-me sempre muita tranquilidade, respondia às minhas dúvidas, ouvia os meus receios... Saber que podia ligar-lhe a qualquer hora da noite ou do dia deixava-me muito segura. Com um médico nunca há essa intimidade. Acho que é isso, cria-se mesmo uma relação de intimidade. Menos medo e mais confiança Penso que hoje estamos - era como eu me sentia - muito longe da experiência da gravidez e do parto. Quando se engravida corre-se para um médico e pômo-nos nas mãos dele. Tudo é medicalizado, tudo é um acontecimento clínico. Esta é a atitude normal na nossa sociedade perante um acontecimento que é tão natural! Agora começa a haver outra abertura a outras formas de encarar as coisas, mas ainda é tudo novo. Como se o natural tivesse deixado de ser normal. Acho que desaprendemos muitas coisas nesta área e isso é triste. A maior parte das pessoas não sabe o que é um parto natural e acha estranho que alguém o desejo. Isso é que é muito estranho, para mim.
O facto de ter
uma doula abriu-me para uma nova forma de encarar a gravidez e o parto,
menos stressante, com menos medos e com mais confiança. Tenho a certeza
que sem ela tudo teria corrido de outra forma. A minha ideia de parto
vinha do que eu via nos filmes e do que me contava quem já tinha passado
por isso. O meu parto seria assim, no hospital, com médicos, com
máquinas, com medo. Tinha medo, quando ouvia falar em cesarianas,
fórceps, ventosas, tudo isso me assustava. Mas tinha de ser assim, para
ser mãe.
Com a minha doula, percebi que não tinha de ser assim.
Fui mudando completamente essa ideia, ao longo da gravidez. Por isso
decidi pelo parto em casa. Mas não dissemos a ninguém para não sofrer
com a ansiedade das outras pessoas. Tive alguns encontros com a parteira
e estive sempre muito tranquila e segura em relação a essa decisão.
O parto com que sonhei
Faltava um dia
para completar 41 semanas. A médica queria induzir o parto no dia
seguinte. Eu não queria. Segui os conselhos da doula e da parteira,
caminhei muito, fiz duches de água quente, comi comidas picantes, bebi
chá de canela e framboesa... Às seis da manhã comecei a ter contracções,
esperei um pouco para ver se eram regulares e estavam com intervalo de
10 minutos. Mandei mensagem à doula e fui tomar um duche. Às sete e pouco, o intervalo era de cinco minutos e aí já
eram contracções fortes. Pensei que se a doula e a parteira não
chegassem depressa a Joana nascia antes. Já estavam de três em três
minutos quando chegaram, finalmente, ainda não eram oito horas. Fiquei
tranquila com a presença delas. Falavam muito baixinho,
reduziram as luzes, respeitavam tudo o que me apetecesse fazer ou
posições que me parecessem melhores. Estive em pé, de cócoras, de gatas,
nada me foi imposto. A parteira não fez nenhum toque, só avaliou o
bem-estarr fetal duas vezes com o CTG. Foi tudo ao meu ritmo e agora sei
que essa liberdade foi muito importante para a forma como as coisas
correram.
Foi muito rápido!
A Joana nasceu às 9h45. Fui a
primeira pessoa a tocar-lhe e mamou assim que nasceu. Na altura
pareceu-me que passou muito mais tempo, foi tudo tão intenso, pensei que
já eram umas quatro da tarde.
Não tive qualquer laceração e isso
também se deve à preparação com a doula. Mostrou-me um filme em que uma
parteira mexicana explicava a importância de não apressar o período
expulsivo, deixar que o períneo fosse esticando devagarinho. Lembro-me
de pensar nisso na altura do parto, que não podia ter pressa. Sei que
uma laceração natural não é tão prejudicial como uma episiotomia - que
ainda é feita por rotina em muitos hospitais. Mas, mesmo assim, podia
ter de ser cosida e era uma coisa que eu gostava de evitar. E consegui!
Foi
sem dúvida o parto com que eu sonhei.
Doeu, claro, mas não teria feito
nada diferente. Não trocava a minha doula por nenhuma epidural. E no
próximo parto quero-a novamente comigo.
Fonte:IOL Mãe
Maria José tem 33 anos e trabalha na área do marketing, numa grande empresa. É mãe da Joana, 7 meses, e conta-nos como o acompanhamento de uma doula alterou o forma como viveu a gravidez e o parto. Devo começar por dizer que tenho a grande vantagem de ter uma amiga que é doula. Portanto, antes de engravidar, já estava mais ou menos informada sobre esse serviço. Quando fiquei grávida e lhe dei a notícia, combinámos logo que ela seria a minha doula, que me acompanharia na gravidez e me prepararia para o parto. Como se fosse uma mãe Ainda não sabia bem o queria em relação ao parto, mas começámos desde o início a conversar sobre isso. Além de conversarmos, enviava-me textos que considerava importantes para eu ler, vídeos ou pequenos filmes e eu fui ficando a par das minhas opções e do que se passava nos hospitais. Ela não fez qualquer pressão, apenas me foi informando, com base em estudos, com base na realidade de outros países, sobre o parto como um processo natural, para o qual estamos preparadas, enquanto mulheres. O parto em casa começou a surgir para mim como a melhor opção até porque podia ser acompanhada, para além da doula, por uma parteira que me daria toda a segurança. Tomei esta decisão mais ou menos a meio da gravidez, de uma forma muito pacífica. Tive uma gravidez muito tranquila e acho que isso também se deveu ao facto de ter tido o acompanhamento da doula. Claro que também ia às consultas com a obstetra e tinha o contacto dela, mas é diferente o tipo de acompanhamento. Para mim, a doula é quase como se fosse uma mãe, numa altura em que estamos muito vulneráveis. Transmitia-me sempre muita tranquilidade, respondia às minhas dúvidas, ouvia os meus receios... Saber que podia ligar-lhe a qualquer hora da noite ou do dia deixava-me muito segura. Com um médico nunca há essa intimidade. Acho que é isso, cria-se mesmo uma relação de intimidade. Menos medo e mais confiança Penso que hoje estamos - era como eu me sentia - muito longe da experiência da gravidez e do parto. Quando se engravida corre-se para um médico e pômo-nos nas mãos dele. Tudo é medicalizado, tudo é um acontecimento clínico. Esta é a atitude normal na nossa sociedade perante um acontecimento que é tão natural! Agora começa a haver outra abertura a outras formas de encarar as coisas, mas ainda é tudo novo. Como se o natural tivesse deixado de ser normal. Acho que desaprendemos muitas coisas nesta área e isso é triste. A maior parte das pessoas não sabe o que é um parto natural e acha estranho que alguém o desejo. Isso é que é muito estranho, para mim.
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