28 março, 2010

Aprender a amamentar

A amamentação requer aprendizagem. Para apoiar as mães e ajudá-las a ultrapassar dificuldades, existem profissionais com formação específica na matéria: as consultoras de lactação, certificadas por um organismo internacional.

Ana tinha finalmente a sua primeira filha nos braços. Agora só ansiava pelo regresso a casa. Via-se no seu cantinho a dar de mamar, enamorada da filha, e tudo lhe parecia perfeito. A Marta mamava sem dificuldades, mas quando saiu da maternidade ainda só conhecia o sabor do colostro. A descida do leite aconteceu já em casa, à tarde, no próprio dia da chegada. Ana esperara as dores no parto, mas ninguém a preparara para aquele fenómeno. «As mamas doíam-me imenso e de repente pareciam duas pedras. Comecei a sentir-me mal e percebi que tinha febre. A Marta não conseguia mamar, porque era-lhe difícil agarrar no mamilo. Eu pensava que estava doente. A minha mãe e as minhas irmãs vieram à noite e elas é que disseram que era a subida do leite. Depois, cada uma dava um palpite, desde o duche quente à bomba de tirar leite, passando por um saco de ervilhas congeladas. Tinha uma de cada lado e eu só chorava. Foi horrível. Um stress. Nada como eu imaginara a primeira noite em casa com a Marta», recorda.
No hospital tinham-lhe dito que se as mamas ficassem duras devia colocar pachos quentes e tentar tirar o leite manualmente. «Segui o que me disseram, mas nada resultava, o leite não saía. Tinha arrepios de frio e picos no peito que pareciam agulhas. Eram dores horríveis. Estava desesperada»
Até que Nuno, o pai da Marta, decidiu ligar para o número de uma moderadora da Liga La Leche de que alguém lhes tinha falado. Eram cinco da manhã. «Foi a minha salvação», conta Ana, que se lembra de todos os conselhos: «Primeiro disse que eu tinha de me acalmar, porque só se estivesse descontraída é que o leite ia sair. Para isso, sugeriu massagens nas costas. Depois ensinou-nos a fazer umas massagens específicas nas mamas que fizeram com que o leite começasse a pingar. Foi um alívio. Consegui tirar leite suficiente para dar à Marta. Entretanto de manhã já tínhamos uma lata de suplemento em casa, porque eu pensava que não ia conseguir dar de mamar. Mas a partir daí não houve mais problemas. Recorri às massagens milagrosas durante mais um dia ou dois, quando sentia que era preciso, mas depois tudo normalizou. Hoje a Marta tem oito meses e continua a mamar.

A importância de um apoio profissional
A voz que estava do outro lado da linha e que ajudou Ana a ultrapassar uma descida de leite súbita e dolorosa era a de Cristina Pincho, uma das poucas consultoras de lactação existentes em Portugal. Depois de uma larga experiência como moderadora da Liga La Leche, orientando encontros de mães e fazendo apoio domiciliário e telefónico, certificou-se em 2008 pelo International Board of Lactation Consultant Examiners (IBLCE), a autoridade internacional que certifica e promove a qualidade dos serviços prestados no apoio à amamentação.
Das dez consultoras de lactação que existem certificadas em Portugal, Cristina é a única que se dedica em exclusivo a esta actividade. Mas tem de fazê-lo em regime privado: «No nosso país não faz parte das equipas de saúde materna que trabalham nos hospitais e centros de saúde a figura da consultora de lactação, como acontece em muitos outros países. Ou seja, o apoio dado às mães é prestado por pessoas que acumulam essa com outras funções e que não têm esta formação específica. Isto acontece porque não é dada a devida importância ao aleitamento materno», considera Cristina Pincho. É por isso que acontece a muitas mães o que aconteceu a Ana: não teve na maternidade o apoio necessário para lidar com as dificuldades normais que podem surgir a seguir.
«Achei que era importante profissionalizar-me porque era também uma forma de garantir a quem me procura um serviço dentro dos padrões de exigência reconhecidos internacionalmente», acrescenta.
Neste momento continua como moderadora da Liga La Leche e criou a sua empresa na área do apoio ao aleitamento materno.

Mães sentem falta de apoio
Segundo a sondagem IOL Mãe que esteve online em Outubro passado, as mães sentem de facto falta de apoio na amamentação. Para 15 por cento das mães que responderam, os profissionais de saúde estão pouco presentes nas primeiras semanas e 22 por cento consideram que os profissionais recomendam o suplemento à primeira dificuldade. 43 por cento das mães sentiram dificuldades e falta de apoio no momento do regresso ao trabalho. 


Por que é que a amamentação pode ser difícil?
Esta é uma pergunta que muitas mães fazem. Cristina considera que o facto de ser um processo biológico não é, só por si, garantia de facilidade. «O instinto não é suficiente porque, nas mulheres, a amamentação está sujeita a muitas interferências de ordem cultural, psicológica, social... Por isso, é um processo que requer aprendizagem. Há muito ruído à volta da mulher e do bebé», explica.
Há mães que pensam que a dor faz parte do processo de amamentação, tal como faz parte do parto, e por isso aguentam em vez de procurarem ajuda. Há outras que pensam que o leite pode ser fraco. Outras têm medo de não ter leite suficiente. «São imensas as ideias erradas em volta da amamentação que interferem no processo e podem levar à desistência», alerta Cristina.
Outra dificuldade é que as pessoas querem medir tudo: «Como não é possível medir a quantidade de leite que o bebé ingere, há mães que ficam com muitas dúvidas. E se tiverem uma avó ao lado (que normalmente não amamentou) a dizer que o bebé está a chorar porque tem fome, está criado o quadro para se desisitir da amamentação», considera.
As principais dificuldades sentidas pelas mães que amamentam prendem-se com a descida do leite, como aconteceu com Ana, mas também com as dores provocadas por uma forma incorrecta de o bebé pegar na mama. «Muitas mães saem do hospital sem terem aprendido a pega correcta, essencial para evitar dores e fissuras», afirma Cristina. «É simples, mas é preciso aprender.»
Ana também aprendeu com Crisitna a verificar se a Marta pegava bem na mama. «Explicou-me que se sentisse dores era um sinal de que ela não estava na posição correcta. Como não podíamos encontrar-nos, indicou-me um site para ver alguns vídeos onde explicavam a posição em que o bebé deve estar e a forma como a boca dele deve agarrar a mama da mãe. A partir daí, nunca mais tive dores», garante.

Fonte: IOL Mãe

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