28 março, 2010

Os desafios das mulheres são pouco importantes?

Um muito pertinente artigo de Ricardo Jones...para reflectir!!!

As mulheres precisam entender que gestar, parir e amamentar são desafios tão eloquentes e grandiosos como a conquista de um país ou a vitória num campeonato do mundo. 

Por que continuam as mulheres a acreditar que podem diminuir as suas angústias desmerecendo os seus desafios?

Vejo o contrário nos homens, e isso talvez tenha a ver com a nossa eterna preparação para o embate e a guerra. Nenhum homem que conheço desmerece suas conquistas pelo medo de sucumbir ao fracasso. Sabemos que o preço da ambição é a dor da falha, mas a sombra da perda serve como estímulo ao nosso esforço em busca do sucesso e da glória.

Por que é que o medo de falhar imobiliza as mulheres?

O roteiro é sempre o mesmo: para não sofrer com o insucesso de um nascimento mais saudável e fisiológico, direi que o parto normal «não é tão importante assim; o que importa é o bebé estar bem e a mãe com saúde». Para não me atormentar com uma amamentação insuficiente, direi que «ela não é tão grandiosa assim, e que não é um acto de amor. Direi que a amamentação é apenas alimento, e que este pode até ser substituído, caso necessário». Afinal, quantas crianças foram desmamadas precocemente e acabaram sobrevivendo? (inclusive este articulista).

Minha dor é perceber que apesar de termos feito tudo o que fizemos ainda somos os mesmos e vivemos como nossos pais, gritava Belchior - pela voz de Elis - nos meus ouvidos de menino. E ele estava coberto de razão. Nossa essência pouco mudou; o feminino ainda precisa se transmutar, amadurecer.

Parece que a revolução sexual, o «Women's Lib"», a queima de sutiãs, a invasão do mercado de trabalho, a presença crescente na política, e tantas outras manifestações culturais positivas da mudança da mulher ainda não foram suficientes para resgatá-las plenamente da dependência e da síndrome de «coitadismo», que funciona como uma potente sedução ao imobilismo. É neste aspecto que acredito que as mulheres deveriam aprender com a experiência dos homens; é neste ponto que nossa testosterona pode ser de alguma utilidade. Se eu posso acreditar que o sucesso de nossa humanidade depende de um processo de equilíbrio, através de uma espécie de «feminilização» crescente na cultura, acredito também que existe espaço para o masculino no discurso feminino.

O «hibridismo» psicológico fortalece o indivíduo (e, por extensão, a própria sociedade que o envolve), pois que o capacita a entender as diferentes linguagens nuances da cultura. Também deve ser objectivo das mulheres lutarem bravamente e com afinco para vencer seus desafios, sem se acovardar diante das adversidades, e sem a paralisia pelo temor de falhar. É importante que no terreno do feminino, como no parto e na amamentação, as mulheres possam usar o medo de fracassar como combustível no seu afã de conquistar e ter sucesso, e não como desculpa para desistir.

Olhem os jogadores de futebol diante de uma final de campeonato, e imaginem-se na mesma situação. Todos eles têm medo de perder, de não alcançar e de falhar. Entretanto, todos relatam que este medo funciona como um «doping moral», que os estimula a fazer todos os esforços possíveis para conseguir a vitória. As mulheres diante do desafio de suas capacidades como gestantes e mães devem se colocar da mesma forma. A tarefa é gigantesca, assim como serão enormes os esforços, mas estas dificuldades devem servir como estímulo à luta e à determinação.

Não se trata de enaltecer os homens, chamando-os de bravos; sequer de diminuir as mulheres tratando-as como fracas. Nada disso. Minha visão destas diferenças tem, sim, a ver com o aprendizado que cada um tem a oferecer e receber do outro. Os homens, na sua longa história de batalhas e guerras, entenderam que as grandes conquistas surgem das grandes dificuldades. As mulheres precisam entender que gestar, parir e amamentar são desafios tão eloqüentes e grandiosos como a conquista de um país ou a vitória num campeonato do mundo.

Desmerecer seus desafios para se proteger da depressão do fracasso jamais tornou vitorioso ou virtuoso qualquer povo ou indivíduo.

 
* A propósito de um artigo publicado num jornal brasileiro onde a autora defendia que a amamentação não é um acto de amor, mas apenas o acto de alimentar um bebé.

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