29 janeiro, 2011

Posição da Sociedade Portuguesa de Pediatria face à notícia do jornal Público "Cientistas contrariam recomendações de leite materno"

Foi há dias publicada uma notícia no Jornal o Público com o título “Cientistas contrariam recomendações de leite materno”. Tal notícia, pelo modo como foi apresentada, poderá suscitar interpretações erradas relativamente à prática do aleitamento materno. A divulgação da notícia pelo grande público merece por parte da Direcção da SPP algumas apreciações. Umas de ordem geral relativas ao aleitamento materno e outras específicas relativas ao conteúdo do artigo em questão.

A recomendação da OMS aponta como desejável um aleitamento materno exclusivo ao longo do primeiro semestre de vida de modo a proporcionar um óptimo crescimento, desenvolvimento e estado de saúde. Essa recomendação é suportada numa revisão sistemática, publicada em 2004 e tendo em conta dados referentes ao crescimento estaturo-ponderal e do perímetro cefálico, morbilidade respiratória e gastrintestinal, eczema atópico, asma e desenvolvimento neuromotor entre outros parâmetros avaliados. Nova revisão sistemática mais recente permitiu a publicação das mesmas conclusões em 2009.

A OMS não refere que tais efeitos benéficos apenas ocorrem com a prática de aleitamento materno (AM) materno exclusivo durante os primeiros 6 meses de vida. O que a OMS refere é que o leite materno (LM) fornece potencialmente todos os nutrientes capazes de suprirem de modo adequado as necessidades do primeiro semestre de vida e que diminui a curto e longo prazo a prevalência de variada patologia.

O reconhecimento deste efeito benéfico do AM exclusivo sobre o crescimento, desenvolvimento e saúde levou a OMS a publicar recentemente novas curvas de crescimento para a infância que foram construídas com base em avaliações de populações infantis de todos os continentes, tendo como critério de inclusão no estudo, entre outros, a prática do AM exclusivo nos primeiros 4 a 6 meses de vida, dado o reconhecimento consensual de que o melhor alimento é o LM (o melhor alimento de cada espécie é nos primeiro tempos de vida o leite da própria espécie). A OMS não impôs como critério de inclusão no estudo a duração de AM exclusivo durante 6 meses. Tal meta, embora desejável, não é possível ser atingida pela maioria das populações. A mãe aumenta a sua produção de leite ao longo dos primeiros meses de vida como resposta às necessidades crescentes do lactente que evidencia nesse período a maior taxa de crescimento ocorrida em todo o ciclo de vida pediátrico. Se a mama não corresponder a essas necessidades crescentes com um aumento da produção de leite a partir de um qualquer período do 1º semestre de vida (o que pode acontecer por vários factores), então o lactente não receberá um suprimento energético (e em nutrientes) adequado e haverá, nessas situações, necessidade de complementar o LM com outro alimento (fórmula láctea ou outros alimentos, na dependência da idade do lactente). E é consensualmente aceite pelas principais Sociedades cientificas pediátricas, nomeadamente pelos Comités de Nutrição da Academia Americana de Pediatria e da Sociedade Europeia de Gastrenterologia, Hepatologia e Nutrição Pediátrica (ESPGHAN) que o LM deverá ser exclusivo nos primeiros 4 – 6 meses de vida, devendo ser complementado com outros alimentos (para além do leite) se necessário, mas nunca antes das 17 semanas de vida. Se a idade for inferior, o complemento deverá ser feito com um leite industrial especialmente adequado para aquela idade.

Todos estes procedimentos de conduta relativa à alimentação do lactente dependem de situações especificas, mas tendo sempre por base que o alimento mais desejável é leite materno que deve ser usado de modo exclusivo e se possível até aos seis meses. Só a partir desta idade é que não é possível suprir adequadamente as necessidades do lactente em macro e micronutrientes e é por isso que o início da diversificação alimentar não deve ocorrer depois das 26 semanas de vida como recomenda o Comité de Nutrição da ESPGHAN.

Um dos grandes efeitos benéficos que se associa ao LM tem que ver com o seu baixo teor proteico que não é possível manter quando se recorre a outros alimentos alternativos. É actualmente muito forte a evidência científica de que um dos factores que tem contribuído para o aumento da prevalência do sobrepeso e obesidade logo desde a 1ª infância se relaciona com o regime alimentar hiperproteico que invariavelmente ocorre logo desde os primeiros meses de vida quando o lactente não é alimentado com LM de modo exclusivo.

Valerá também a pena sublinhar que parte do efeito benéfico para a saúde atribuído ao LM se perde quando se associa outro alimento (como suplemento ao LM), já que dessa atitude resulta uma clara interferência na biodisponibilidade de nutrientes e de outros componentes, com importantes acções biológicas, presentes no leite materno.

Ainda relativamente aos benefícios para a saúde associados ao AM, são desde há muito conhecidos os efeitos benéficos a curto prazo. Mais recentemente, revisões sistemáticas e meta-análises têm mostrado também efeitos benéficos a longo prazo (idade adulta). Por exemplo, é muito forte a evidência de que o aleitamento materno diminui o risco de sobrepeso e obesidade, (actualmente um dos principais problemas de saúde pública) quer ao longo da idade pediátrica, quer mesmo na idade adulta. E é interessante verificar que esse efeito é dose-dependente, isto é, o risco de obesidade será menor quanto maior tiver sido a duração do aleitamento materno ao longo da 1ª infância. Outras revisões têm mostrado também um efeito protector a longo prazo relativamente a outras patologias, como é o caso de alguma patologia metabólica e cardiovascular.

Em resumo poderemos citar a Agency for Healthcare Research and Quality dos Estados Unidos, que tendo por base 29 revisões sistemáticas ou meta-análises reportadas a cerca de 400 estudos verificou que o aleitamento materno se associa a uma redução do risco de otite, gastrenterite não-específica, infecções severas do tracto respiratório inferior, dermatite atópica, asma, obesidade, diabetes de tipo 1 e 2, leucemia na criança e síndrome de morte súbita do lactente entre outras situações.

Relativamente ao artigo em questão, valerá a pena referir que os autores são reputados investigadores, com inúmeras publicações na área da nutrição infantil. Refira-se aliás que a sua produção científica tem mostrado inclusivamente efeitos benéficos a longo prazo para a saúde resultantes da prática do AM.

Como a primeira autora do artigo aponta, não é feita pelos autores nenhuma recomendação quanto à idade de início da diversificação alimentar, mas apenas referido que a introdução de novos alimentos pode ser feita entre os 4 e os 6 meses, mantendo o AM. Os argumentos do artigo do BMJ vão no sentido de uma introdução sistemática de novos alimentos a partir dos 4 meses, tendo em conta um maior risco de anemia e uma maior incidência de alergia alimentar e de doença celíaca associado ao aleitamento materno exclusivo nos primeiros 6 meses de vida. Sem pôr em causa os resultados de alguns estudos apontados pelos autores, a verdade é que a evidência científica actual está longe de ser suficientemente robusta para que se possa recomendar a diversificação alimentar sistemática a partir dos 4 meses de vida em todos os lactentes até então alimentados com LM exclusivo. Sublinhe-se ainda o facto de que quanto mais precoce é a introdução de novos alimentos mais rapidamente diminui a duração do AM.

Não deixa de ser curioso que a autora sugira que a recomendação de AM exclusivo por 6 meses seja defensável nos países pobres tendo em conta as elevadas taxas de morbilidade e mortalidade por infecções. Sabemos que nos países mais desfavorecidos, onde a taxa de desnutrição global nas populações é elevada, as mães não conseguem corresponder às necessidades crescentes do lactente com um aumento suficiente da produção de leite e por isso o recurso a outros alimentos ocorre em geral antes dos seis meses.

Em conclusão, julgamos que o título na notícia no Público é manifestamente infeliz, já que deixa transparecer uma posição global, dos autores do artigo, contrária ao AM, quando o que está em causa são apenas alguns aspectos específicos ligados à duração de AM exclusivo.


Assim, os lactentes devem continuar a ser alimentados de modo exclusivo com leite materno, se possível até aos 6 meses de vida. Se tal não for possível então devem receber um complemento alimentar (adequado à idade), mantendo o LM pelo menos ao longo do segundo semestre de vida, como refere a OMS.

A Direcção da SPP

Fonte: SPP

Portugal tem hospitais pouco amigos dos bebés

Poucos estabelecimentos encorajam mães ao aleitamento materno


Há 30 anos que Portugal aderiu ao Código de Ética dos substitutos do leite materno, biberões e retinas para proteger e encorajar a amamentação, mas ainda existem muitos hospitais que, nesta área, não são amigos dos bebés, denunciou uma pediatra, escreve a Lusa.


A crítica é de Leonor Levy, pediatra e especialista em aleitamento materno, que na terça-feira lança o livro «Um acto de amor», que se anuncia como um guia com «tudo o que precisa de saber para amamentar o seu bebé com sucesso».

Em declarações à Lusa, Leonor Levy esclareceu que o objetivo deste livro é um só: «Ajudar».

Para a especialista, que é membro da Comissão Nacional «Iniciativa Hospitais Amigos dos Bebés», que integra o Comité Português para a Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) desde 1998, ajuda é precisamente o que as mães precisam para conseguirem alcançar o objectivo de amamentar o seu filho.

No hospital, essa ajuda passa por um ambiente amigo dos bebés, que proporcione uma mamada na primeira hora de vida das crianças e esclarecimentos para que as dificuldades sejam ultrapassadas à medida que surgem.

Já em casa, a mãe deve receber essa ajuda através de um ambiente tranquilo, para que possa dedicar-se em pleno à criança.

Existem, contudo, muitos factores externos que podem contribuir para a ideia de que o leite materno pode, ou deve, ser substituído por leites artificiais, apesar de Portugal ter aderido a um Código de Ética que proíbe este tipo de mensagens.

Em 1981, Portugal aderiu ao Código de Ética dos substitutos do leite materno, biberões e retinas, cujo objectivo é «contribuir para assegurar ao lactente uma nutrição adequada, protegendo e encorajando a amamentação e assegurando a utilização apropriada dos substitutos do leite materno».

Este Código - que contempla as condições de comercialização dos substitutos do leite materno, constitui juntamente com as normas que regulamentam os padrões de qualidade dos mesmos substitutos, um documento indissociável e foi elaborado tendo em atenção a saúde da criança é ainda, 30 anos depois violado por muitos hospitais que não são amigos dos bebés.

No seu livro, Leonor Levy recorda que «a publicidade agressiva a partir das casas produtoras de leite conseguiu atingir os seus objetivos nos anos 50 e 60, chegando-se mesmo a pedir a demonstração da supremacia do leite materno em relação ao leite de vaca», o que terá sido uma «das causas do declínio da amamentação».

Este tipo de publicidade é proibido pelo Código de Ética, proibição que «é continuamente desrespeitada».

«Basta visitar alguns hospitais onde nascem crianças para observar inúmeras referências a marcas que vendem leite artificial, biberões e tetinas» e alguns estabelecimentos oferecem às mães pacotes com brindes deste tipo.

Para a especialista, «comparar o leite de vaca com o leite materno é como equiparar o pronto a vestir e a alta costura».

Estima-se que 95 por cento das mulheres saem das maternidades a amamentar os filhos, mas «muitas dessas mães desistem de amamentar o seu filho durante o primeiro mês de vida do bebé».

A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda que a criança seja alimentada exclusivamente com o leite materno até aos seis meses.

Fonte: IOL Diário

Quando a gravidez não chega ao fim... a dor da perda

A gravidez e tudo o que a envolve traz à mãe, e à nova família descobertas e alegrias, grandes receios e dúvidas. Umas e outras servem para nos prepararmos para a maternidade, que é geralmente encarada e reltada socialmente como um maravilhoso mundo onde tudo se ganha! 
Mas quando a gravidez não chega ao fim, as marcas são profundas e permanentes, e por se ter esta percepção tão idealizada nem sempre é fácil conseguir o paoionecessário e adequado às mães e pais que acabaram de perder o seu bebé.
Esta carta, escrita por uma enfermeira americana que perdeu o seu bebé, e nos relata os sentimentos e angústias desse momento de dor, principalmente diante de palavras e comentários de pessoas, na tentativa de ajudar, faz-nos reflectir a nossa postura.
Porque percebi que este é também uma das faces, não desejável mas possível, do acompanhamento/apoio na gravidez, decidi partilhar esta carta.

Em Portugal o Projecto Artémis proporciona um espaço de partilha com objectivo de diminuir a falta de informação técnica e emocional a mulheres que vivenciam o luto da perda de um bebé ao longo da gravidez, bem como quebrar o Pacto de Silêncio resultante de todo esse processo de luto na Perda Gestacional.



Carta de uma mãe que perdeu o seu bebê

Quando estiver tentando ajudar uma mulher que perdeu um bebê, não ofereça sua opinião pessoal sobre sua vida, suas escolhas, seus projetos para seus filhos. Nenhuma mulher nesta situação está procurado por opiniões (de leigos) sobre porque isto aconteceu ou como ela deveria se comportar.
Não diga: É a vontade de Deus. Mesmo se nós somos membros de uma mesma congregação, a menos que você seja um dirigente desta igreja e eu estiver procurando por sua orientação espiritual, por favor, não deduza o que Deus quer para mim. A vontade de Deus é que ninguém sofra. Ele apenas permite.

Apesar de saber que muitas coisas terríveis que acontecem são permitidos por Deus, isto não faz estes acontecimentos menos terríveis.

Não diga: Foi melhor assim havia alguma coisa errada com seu bebê. O fato de haver alguma coisa errada com o bebê é que me faz tão triste. Meu pobre bebê não teve chance. Por favor, não tente me confortar destacando isto.

Não diga: Você pode ter outro. Este bebê nunca foi descartável. Se tivesse a escolha entre perder esta criança ou furar meu olho com um garfo, eu teria dito: Onde está o garfo? Eu morreria por esta criança, assim como você morreria por seu filho. Uma mãe pode ter dez filhos, mas sempre sentirá falta daquele que se foi.

Não diga: Agradeça a Deus pelo(s) filho(s) que você tem. Se a sua mãe morresse num terrível acidente e você estivesse triste, sua tristeza seria menor porque você tem seu pai?

Não diga: Agradeça a Deus porque você perdeu seu filho antes de amá-lo realmente. Eu amava meu filho ou minha filha. Ainda que eu tenha perdido meu bêbê tão cedo ou quando nasceu, eu o amava.

Não diga: Já não é hora de deixar isto para trás e seguir em frente? Esta situação não é algo que me agrada. Eu queria que nunca tivesse acontecido. Mas aconteceu e faz parte de mim para sempre.A tristeza tem seu tempo que não é o meu ou o seu.

Não diga: Eu entendo como você se sente. A menos que você tenha perdido um bebê, você realmente não sabe como eu me sinto. E mesmo que você tivesse perdido, cada um vivencia esta tristeza de modo diferente.

Não me conte estórias terríveis sobre sua vizinha, prima ou mãe que teve um caso parecido ou pior. A última coisa que preciso ouvir agora é que isto pode acontecer seis vezes pior ou coisas assim. Estas estórias me assustam e geram noites de insônia assim também como tiram minhas esperanças. Mesmo as que tenham tido final feliz, não compartilhe comigo.

Não finja que nada aconteceu e não mude de assunto quando eu falar sobre o ocorrido. Se eu disser antes do bebê morrer... Ou quando eu estava grávida...não se assuste. Se eu estiver falando sobre o assunto, isto significa que quero falar. Deixe-me falar. Fingir que nada aconteceu só vai me fazer sentir incrivelmente sozinha.

Não diga Não é sua culpa. Talvez não tenha sido minha culpa, mas era minha responsabilidade e eu sinto que falhei. O fato de não ter tido êxito, só me faz sentir pior. Aquele pequenino ser dependia unicamente de mim para trazê-lo ao mundo e eu não consegui. Eu deveria trazê-lo para uma longa vida e não pude dar-lhe ao menos sua infância. Eu estou tão brava com meu corpo que você não pode imaginar.

Não me diga: Bem, você não estava tão certa se queria ter este bebê... Eu já me sinto muito culpada sobre ter reclamado sobre mal estar matinais ou que eu não me sentia preparada para esta gravidez ou coisas assim. Eu já temo que este bebê morreu porque eu não tomei as vitaminas, comi ou tomei algo que não devia nas primeiras semanas quando eu não sabia que estava grávida.

Eu me odeio por cada minuto que eu tenha limitado a vida deste bebê. Se sentir insegura sobre uma gravidez não é a mesma coisa que querer que meu bebê morra, eu nunca teria feito esta escolha.

Diga: Eu sinto muito. É o suficiente. Você não precisa ser eloqüente. As palavras dizem por si.

Diga: Ofereço-lhe meu ombro e meus ouvidos.

Diga: Vocês vão ser pais maravilhosos um dia ou vocês são os pais mais maravilhosos e este bebê teve sorte em ter vocês. Nós dois precisamos disso.

Diga: Eu fiz uma oração por vocês. Mande flores ou uma pequena mensagem. Cada uma que recebi, me fez sentir que meu bebê era amado. Não envie novamente se eu não responder.

Não ligue mais de uma vez e não fique brava (o) se a secretária eletrônica estiver ligada e eu não retornar sua chamada. Se nós somos amigos íntimos e eu não estiver respondendo suas ligações, por favor, não tente novamente. Ajude-me desta maneira por enquanto.

Não espere tão cedo que eu apareça em festas infantis e ou chás para bebes ou vibre de alegria no dia das mães. Na hora certa estarei lá.

Se você é meu chefe ou companheiro de trabalho: Reconheça que eu sofri uma morte em minha família não é simplesmente uma licença médica. Reconheça que além dos efeitos colaterais físicos, eu vou estar triste e angustiada por algum tempo. Por favor, me trate como você trataria uma pessoa que vivenciou a morte trágica de alguém que amava. Eu preciso de tempo e espaço.

Por favor, não traga seu bebê ou filho pequeno para eu ver. Nem fotos. Se sua sobrinha está grávida, ou sua irmã teve um bebê há pouco, por favor, não divida comigo agora. Não é que eu não possa ficar feliz por ninguém mais, é só que cada vez que vejo um bebê sorrindo ou uma mãe envolta nesta felicidade, me traz tanta saudade ao coração que eu mal posso agüentar. Eu talvez diga olá, mas talvez eu não consiga reprimir as lágrimas. Talvez ainda se passarão semanas ou meses antes que eu fique pelo menos uma hora sem pensar nisso. Você saberá quando eu estiver pronta.Eu serei aquela que perguntará pelos bebes, ou como está aquele garotinho lindo?

Acima de tudo, por favor, lembre-se que isto é a pior coisa que já me aconteceu.

A palavra morte é pequena e fácil de dizer. Mas a morte do meu bebê é única e terrível. Vai levar um bom tempo até que eu descubra como conviver com isto.

Fonte: Psicodoula

26 janeiro, 2011

Que delícia...

Lindo!!!!

Temple canta pouco antes do parto domiciliar de seu filho Koa, nascido com 4,5 kg. Ela cantou para lidar com as contrações, e tem duas fortes contrações nesse tempo. A filmagem foi feita por sua filha de 7 anos. A música é um gospel, Salmo 23.

23 janeiro, 2011

É tempo de voltar a sentir

altO poder da Natureza e os instintos da mulher prestes a ser mãe têm sido votados ao ostracismo por aqueles que mais os deviam defender. Em nome das rotinas médicas e do progresso científico, fecharam-se a sete chaves os saberes antigos do parto, que a medicina deixou esquecidos numa qualquer prateleira, aonde só chegavam aqueles que não tinham medo de enfrentar as práticas convencionais. Pelo meio, «perdeu-se a nossa capacidade de acreditar que somos capazes de parir», como sublinha Luísa Condeço, da Associação Doulas de Portugal.
«Vamos sendo ‘castradas’ ao longo do tempo e, na altura de parir, instala-se o medo», explica a doula, lembrando que é o medo que tudo domina e deixa dominar. E, na realidade, é quase sempre em nome desse medo que as mulheres se entregam de corpo e alma na mão dos médicos, deixando que estes decidam por si. Para o bem e para o mal.
Visto deste prisma, o ponto de situação parece drástico, mas é apenas resultado da instalação das rotinas trazidas pelos avanços da ciência e da tecnologia. Apesar do progresso na saúde materna ter contribuído, e muito, para baixar a mortalidade das mães – tanto natal como perinatal – também custou o alto preço de tornar a mulher prisioneira dos hospitais, onde progressivamente foi perdendo o controlo sobre o seu corpo e as suas vontades.
Depois de ter acompanhado mais de 100 partos ao longo dos últimos oito anos, a doula Luísa Condeço não tem dúvidas de que «é preciso devolver à mulher a consciência de que é ela a responsável e pode escolher». Como tantos outros, também ela já perdeu a conta ao número de vezes que ouviu uma mulher dizer que não à epidural e a seguir pressionarem-na no sentido contrário, com a célebre frase: «Mas tem a certeza? Olhe que o anestesista vai sair.»

O PODER DA NATUREZA
O lema da parteira Glória Charrua é «confiar na Natureza». A sua experiência de mais de 40 anos passados a ajudar bebés a nascer tem-lhe provado que ela é sempre sábia, por mais que muitos médicos lhe tenham tentado mostrar o contrário ao longo das últimas décadas.
Saída de uma das últimas fornadas do curso de parteira da Faculdade de Medicina de Coimbra, Glória passou muitos anos a trabalhar em hospitais públicos e clínicas privadas. Viu muitas coisas, boas e más, mas foram as más que a marcaram profundamente. Tão profundamente que há cerca de dez anos atingiu o limite. Pediu uma licença sem vencimento e passou a acompanhar só partos ao domicílio.
Desde então, todos os dias aprende lições. Foi-se libertando dos preconceitos e das desconfianças e, hoje, não tem receio de afirmar que tem aprendido muito, sobretudo com os macrobióticos e as doulas. Depois do convívio diário com a crescente medicalização e instrumentalização do acto de nascer nos hospitais, hoje é livre para garantir às mulheres que a procuram que «o parto não é uma doença e sim algo perfeitamente natural».
Mas se ter um parto natural não é tão simples como muitas grávidas pensam, também não é tão complicado como muitos clínicos ainda receiam que seja. Pelo menos é assim que o vê, médica especialista em Ginecologia-Obstetrícia, com uma visão holística da medicina. O seu trabalho na Clínica Moderna da Mulher, em Cascais, e no Hospital Particular de Lisboa tem sido responsável pelo despertar de mentalidades em Portugal e hoje Radmila Jovanovic é reconhecida por defender que os instintos são poderosos e que o saber inato alcança lugares onde a medicina não chega.
Para esta médica nascida na antiga Jugoslávia, o segredo do parto reside no caminho que se percorre durante a gestação. «A gravidez é a possibilidade de voltar a ouvir o corpo», contudo, «começar a ouvir outra vez pode trazer medos, pânicos, desconfianças», perfeitamente naturais, mas que precisam ser trabalhadas durante a gravidez de modo a que «o parto resulte de forma natural», explica.
Ainda assim, mesmo que o desejo da grávida seja o de um parto natural, pelo caminho, pode chegar-se à conclusão que é mesmo necessário uma epidural, uma cesariana ou até fórceps. «Não existe o melhor e o pior. Cada caso é um caso», garante Radmila Jovanovic, para quem «a decisão é de cada mulher», que quase sempre pressente o que lhe vai acontecer ainda no início do parto.

RELAXAR COM PALAVRAS
Aos 65 anos de idade, Glória Charrua não tem papas na língua. «Os médicos deviam fazer um curso de relações humanas». No entender desta parteira, alentejana de gema, muitos problemas que surgem durante o trabalho de parto seriam evitados se os médicos soubessem conversar com as pacientes.
A longa experiência em Ginecologia-Obstetrícia do professor catedrático Manuel Meirinho não desmente a da parteira. «O acompanhamento médico é o melhor fármaco» que pode haver para a dor, garante este médico, dono de uma carreira construída no serviço público, que deixou marca como defensor do parto natural quando ainda nem se tinha ouvido falar na humanização do parto em Portugal.
Professor catedrático e ex-responsável pelo serviço de Obstetrícia do Hospital Garcia da Orta, optou por dedicar toda a sua vida ao serviço público, porque acredita que «o serviço público existe para servir o público». Mas o trabalho de toda uma vida no serviço público obriga-o a reconhecer que nem tudo corre bem nos hospitais e que, «muitas vezes se faz a anestesia geral ou baixa por uma questão de facilidade do parto».
Na maior parte dos casos, quem acompanha o parto está mais preocupado «com o conforto da mãe, do que com o parto espontâneo», sublinha o obstetra, ciente de que por mais que a ciência médica tenha evoluído ao longo das últimas décadas ainda está longe de ter alcançado a perfeição.

NO REINO DA EPIDURAL
O tempo tem-se encarregado de ir provando à medicina que a Natureza é sábia e os excessos se pagam caro. Os partos que antes se preferiam assépticos e tecnológicos, são agora vistos como um caminho tortuoso, sobretudo quando recheado de intervenções desaconselhadas pela própria Organização Mundial da Saúde (ver caixa).
Foi o alívio da dor que levou a maioria das mulheres a trocar o parto no domicílio pelo parto hospitalar, que a partir dos anos 70 se tornou um procedimento normal em Portugal. Mas no momento em que as mulheres deixaram de confiar no seu corpo e passaram a confiar mais nos procedimentos médicos, as rotinas instalaram-se. Bastou um pequeno salto para que a epidural entrasse de armas e bagagens, como se fosse a melhor coisa do mundo.
Para muitas mulheres, é-o seguramente, até porque «há pessoas que suportam melhor a dor e outras que são mais fracas», como explica Manuel Meirinho. Apesar de defender que «o ideal é o parto espontâneo com contracções normais», este médico não recusa o mérito da epidural, desde que «devidamente acompanhada».
Já a doula Luísa Condeço, embora não seja defensora da epidural também não é contra. No seu entender, o que é fundamental «é perceber porque é que a mulher tem sensibilidade à dor», e na maior parte das vezes isso implica «escavar, e fazer um trabalho profundo», para o qual nem todas as mulheres estão preparadas.
Já no que toca à cesariana, ambos os profissionais recusam-na como um procedimento rotineiro, mas as evidências dos números portugueses confirmarem que esse é o caminho que o país tem vindo a traçar.
Cerca de 33 por cento dos partos realizados em Portugal são por cesariana, um número que o relatório Europeu de Saúde Perinatal de 2008 destacou como elevado e indicador de má prática clínica, e a que se junta ainda uma elevadíssima taxa de 80 por cento nas episiotomias.

O SEGREDO É O MEIO-TERMO
Olhando para o lado positivo dos números portugueses, nem tudo é mau. A mortalidade perinatal, que nos anos 60 era quase de 40 em cada mil partos, está abaixo dos 3,5/4 por mil. «Portugal está, neste momento, entre os dez países do mundo com mais baixa taxa de mortalidade infantil», lembra o ginecologista-obstetra João Dória Nóbrega, sublinhando que é um feito notável. Agora, o que é preciso é «andar atrás do factor evitável», acrescenta.
Para este especialista, o simples facto de estarmos «a questionar o que se perdeu» pelo caminho já é um verdadeiro «sinal de progresso». O segredo será «encontrar o meio-termo», o que na sua opinião passa sobretudo por uma mudança na forma como os hospitais encaram os partos.
«Os hospitais é que têm de mudar, de se adaptar às novas realidades», defende João Dória Nóbrega, explicando que um bom começo seria todos terem uma zona com «aspecto familiar e caseiro», onde «a mulher não se sinta num hospital» e possa «ter os parentes por perto», com a garantia e a segurança de estar «perto da zona técnica que pode dar apoio».
A parteira Glória Charrua vai um pouco mais longe do que o ginecologista-obstetra e reivindica que «devia haver, em Lisboa, uma casa de partos». A sua própria casa já serviu várias vezes como casa de apoio a partos, que pela força das circunstâncias acabaram por ter lugar lá. Por isso mesmo a parteira reconhece a importância de ter um lugar adequado para o efeito, fora do ambiente hospital e sem qualquer intervenção médica, mas, ainda assim, suficientemente perto de um hospital para quando for necessário apoio de emergência.
Entretanto, há outras mudanças a fazer, sobretudo nas mentalidades. «É preciso voltar a olhar para a morte e para o nascimento como os momentos mais profundos da vida», lembra a doula Luísa Condeço, para quem a grande revolução do parto terá de ser feita pelas próprias pessoas.
Se o parto antigamente era «um negócio de mulheres e só de mulheres», como lembra João Dória Nóbrega, nos dias de hoje tem sido um negócio de clínicas e hospitais. Agora, o que é preciso é que deixe de ser visto como um negócio e passe a ser o que sempre devia ter sido: um assunto de família.


PROCEDIMENTOS DESACONSELHADOS PELA OMS*O uso rotineiro de enema (clister), exame rectal e tricotomia (rapagem dos pêlos púbicos);
*O uso rotineiro da posição deitada durante o trabalho de parto e durante o parto;
*O uso excessivo ou rotineiro de episiotomia;
*Os esforços de puxo prolongados e dirigidos durante o período expulsivo (manobra de Valsalva);
*O uso abusivo de ocitocina artificial (colocada no soro).


CAMINHOS PARA UM PARTO MAIS NATURAL
* Elaborar um plano de nascimento, determinando onde, como e por quem será realizado o parto;
* Respeitar a escolha da mãe ou do casal sobre o local do parto, depois destes terem sido devidamente esclarecidos e informados;
* Oferecer à mulher ou ao casal todas as informações e explicações que estes necessitem ou desejem;
* Dar liberdade de posição e de movimentos durante o trabalho de parto;
* Facultar o contacto precoce, pele a pele, entre a mãe e o bebé logo após o parto, bem como o início da amamentação na primeira hora do pós-parto.

Fonte: Pais e Filhos

«Não se pode deixar um bebé chorar»



altRecuperar o instinto e não impor objectivos de adulto na relação com os bebés são um bom resumo da conversa que a conhecida médica e autora de livros dedicados à gravidez, parto e pediatria manteve com a PAIS&Filhos. Longe das receitas e de regras rígidas, Miriam Stoppard garante que os pais sabem sempre o que é melhor para os filhos.

Garante que uma família feliz terá filhos felizes e saudáveis.
A felicidade é uma vitamina fundamental para a saúde. Com tanta literatura sobre pediatria os pais ficam confusos sobre os caminhos a seguir. Depois de alguma liberdade assistimos ao regresso de teorias rígidas. Não acredito em nada rígido em bebés e crianças. Acho que os pais têm de ser flexíveis e seguir os sinais que a criança vai dando, em vez de tentar impor os seus objectivos adultos aos filhos. Os pais esperam demasiado dos seus bebés e eu quero que eles saibam como os bebés desenvolvem competências e como os adultos podem ajudar a desenvolvê-las. É importante não se esperar muito demasiado cedo. Não acredito de todo em seguir regras rígidas de um qualquer livro ou autor. Não pretendo saber o que é melhor para os pais, porque só os próprios sabem isso. O que eu quero é transmitir confiança aos pais para seguirem os seus instintos, que estão sempre certos. Não acredito em ensinar os pais, porque parece-me de enorme arrogância que alguns especialistas saibam mais do que é melhor para a família. Não podem.

A geração actual de pais é muito criticada pelos avós por serem demasiado flexíveis, por serem escravos dos filhos, invocando as suas experiências, como por exemplo: «deixem o bebé chorar no quarto que depois acalma».
Sou absolutamente contra deixar um bebé chorar. Actualmente, todos sabemos o que acontece no cérebro dos bebés quando choram. Até um bebé ter seis meses não tem capacidade para se acalmar. Os bebés precisam de ser ensinados, encorajados a aprender a lidar com o choro, com a sensação de desconforto, a frustração. Os bebés precisam que lhes mostremos como fazer e a única forma de ensinar um bebé a acalmar-se é o adulto sossegá-lo calmamente para que se habitue a estas sensações boas. Ajuda falar baixinho e gentilmente, embalá-los, fazer festinhas, pegar ao colo. Estas sensações positivas e gratificantes vão ficando na memória do bebé que a pouco e pouco vai memorizando esse património positivo. Ao contrário, deixar um bebé chorar é cruel. Quando um bebé chora o cérebro desencadeia uma série de reacções desenvolvendo-se num determinado sentido para o resto da vida. É como uma impressão digital. Os bebés que são deixados a chorar serão mais mal dispostos, difíceis de confortar, choram muito, serão difíceis de acalmar e quando crescerem tornam-se crianças anti-sociais, menos afectuosas, não fazem amigos facilmente e vão ter problemas de aprendizagem na escola. E tudo isto acontece porque se deixa um bebé chorar. Por outro lado, se se confortar o bebé ele apreende os sentimentos amorosos de segurança e satisfação, o cérebro produz sensações agradáveis o que desencadeia um desenvolvimento num sentido completamente diferente. Esse bebé será naturalmente mais amistoso, fará amigos facilmente, será capaz de partilhar, afectuoso, com boa capacidade de concentração e terá um melhor desempenho na escola. Isto nós sabemos. É ciência. A ciência é que nos explica porque não devemos deixar um bebé chorar.

A ciência manda os pais pegar nos bebés ao colo, tocar, cantar, dar mimos
Sim.

Valoriza muito o conceito de família. As famílias hoje são muito diferentes.
É verdade que valorizo imenso. Acho que é o melhor ambiente para uma criança crescer, mas as famílias podem revestir todo o tipo de configurações. Eu própria tenho dois enteados e duas enteadas, onze netos e não faço qualquer distinção entre os filhos dos meus filhos ou os dos meus enteados. Na minha família há quatro avós. A felicidade é uma vitamina essencial para o crescimento. O amor também é. E para uma criança não interessa de onde vem o amor. Eles só querem é sentir esse amor porque os faz sentir bem, seguros, auto-confiantes.

Todos precisamos.
Mas é ainda mais importante para uma criança. Quanto mais pessoas uma criança tiver na sua família (na sua tribo) melhor será e mais probabilidades teremos de ter crianças saudáveis. Por isso, sim, sou defensora acérrima da família qualquer que seja o tipo de família. Acredito nas reuniões familiares alargadas, seja em festas de aniversário, ou outras.

Os rituais são importantes?
Todos os rituais, o Natal, a Páscoa, os aniversários. É fácil perceber como as crianças adoram estas festas. As que não têm família nessa dimensão por volta dos três, quatro anos escolhem figuras como o carteiro, a empregada, a professora, o cão, o gato porque todas as pessoas do seu mundo são a família deles. Por isso, as crianças adoram a ideia de famílias grandes e de muitas relações e adoram conhecer mais e mais gente, os primos afastados, os tios em terceiro ou quarto grau e percebem muito rapidamente.

As famílias são cada vez mais pequenas, há mais pais solteiros e filhos únicos. A família tem de ser a de laços de sangue? Os amigos podem desempenhar essa função
.
Claro. E podem promover dormidas em casa de amigos, saídas com amigos com filhos pequenos, trazer amigos da escola para casa.

Ser-se mãe ou pai solteiro não é uma questão.

Não deve ser. Ser mãe ou pai solteiro pode ser muito duro mas pode ser feito.

Se pedir ajuda fica mais fácil.
Claro e sabe uma coisa? O que é bom para a criança é bom para o pai ou mãe. É que se procurar trazer amigos da criança para casa, ou organizar saídas de amiguinhos o adulto naturalmente conhecerá outros pais, o que lhe permite alargar a sua própria rede de contactos sociais.

Mudando um bocadinho de tema, gostava de saber a sua opinião sobre a polémica de dormir com os pais (cosleeping). Nunca diz que os pais não podem levar os filhos para a cama.
É verdade.

Porque há tanta gente contra o co-sleeping?
Eu sei porquê. Em primeiro lugar há regras básicas: um fumador não deve ndormir com um bebé porque as toxinas dos cigarros ficam impregnadas na pele e na roupa e o bebé respira-as. Sabemos que os filhos de pais fumadores têm mais infecções respiratórias, gastroenterites. A segunda regra é que o bebé não deve dormir nunca ao pé de quem esteve a beber porque os reflexos do adulto ficam diminuídos e sem querer pode deitar-se em cima do bebé sem se dar conta. E o mesmo se aplica a quem toma drogas. É também muito importante que não se durma com um bebé num sofá porque fica muito calor e o bebé aquecer demasiado não é bom. É, aliás, um dos perigos identificados da morte súbita.
Eu tenho tanta preocupação com o sobre aquecimento dos bebés que a proximidade de um adulto na cama me faz recear. Mas isso já sou eu e os meus medos. Na vida real, eu sei que os pais levam os filhos para a cama deles e se essa for a única forma de fazer o bebé parar de chorar é muito tentador levar o bebé para a cama dos pais. Eu preferia que o berço estivesse ao lado dos pais, para que quando o bebé chorasse um deles levantasse o braço e fizesse festinhas ritmadas ao filho, que é muitas vezes o que eles precisam sentir.
O meu filho mais novo chorava bastante de noite e eu acabei por montar um colchão de campismo ao lado da cama dele. Se ele chorava eu levantava o braço, toca-lhe, dava-lhe umas pancadinhas amorosas e isso chegava para ele. Saber que eu estava ali confortava-o e sossegava-o. Sinceramente, acho este cenário preferível. A verdade é que se diz que os pais que levam os filhos para a cama têm um reflexo instintivo – isto aplica-se às mães não sei se os pais também têm – e que mantém um grau de alerta que as impede de se deitar em cima dos filhos. Não sei se está provado.
No fundo, o que eu acho é que cada família, cada pai e mãe é que têm de decidir. Eu só me sinto na obrigação de os informar dos riscos. E os pais decidem sempre pelo que é melhor para todos.

Nos primeiros anos a maioria dos pais é bastante rígida na alimentação. A partir dos três, quatro anos começam as asneiras, as excepções e a banalização de comida menos saudável. E as asneiras têm de ser grandes senão não tínhamos estes números assustadores de obesidade infantil. Como fazer para que as nossas crianças, desde pequeninas, gostem mais de comida saudável?
Temos de ir muito mais atrás do que os primeiros anos. Muitos estudos demonstram que o que a mãe come na gravidez, o bebé sente. Portanto, se quer que o filho goste de comida saudável deve comê-la durante a gravidez porque os sabores vão no sangue, atravessam a placenta para o bebé.
Para continuar a encorajar o gosto pela comida saudável, a mãe tem de alimentar-se correctamente enquanto amamenta, porque o sabor passa no leite e o bebé interpreta todos os sabores que recebe pela amamentação como boa comida.
Portanto se quer que os seus filhos gostem de brócolos, deve comê-los na gravidez e enquanto amamenta. Há uma experiência muito interessante que foi feita com grávidas: um grupo bebia sumo de cenoura e outro sumo de laranja. Depois de nascerem, aos seis meses, quando começavam com os sólidos os bebés das mães que tinham bebido sumo
de cenoura comiam cereais misturado com sumo de cenoura mas não comiam se fosse misturado no sumo de laranja. E vice versa. Se a grávida e a mãe comerem bem, a criança cresce com bons hábitos alimentares. E como também defendo que as crianças devem ser amamentadas em exclusivo até aos cinco/seis meses a partir do momento em o bebé consegue agarrar objectos e desenvolve a chamada pinça (pegar com o indicador e o polegar em pequenos objectos) sugiro que uma variedade de comida saudável deve ser oferecida ao bebé no tabuleiro da cadeira para que possa escolher o que quiser comer. Vários estudos demonstram que, se for dada comida variada a um bebé, ele tende a fazer escolhas saudáveis. Se quiser que o bebé coma vegetais primeiro, ofereça vegetais variados: ervilhas, brócolos, tomate, ervilhas, feijões. Aos poucos, começa-se a juntar proteínas, preferencialmente carne branca. A fruta também pode começar a ser dada: pedacinhos de banana, maçã, pêra. Todas as experiências têm de ser feitas quando o bebé tem fome.
As dificuldades começam com a socialização e as festas de aniversário da família e de amigos da escola.
Isso não tem de ser um problema, desde que se explique bem à criança que o que se passa em casa é o normal e o que se come em festas é raro. E não se fazem festas todos os dias. As crianças percebem muito bem a diferença.

Os números da obesidade infantil portuguesa, à semelhança de outros países, são assustadores.
Vi os números portugueses e estão bastante mal também. Acho que, em especial, as mães confundem comida com amor. Mas dar guloseimas e excesso de comida ou má alimentação não é dar amor é dar doenças, como a diabetes, doenças cardio-vasculares, e ataques cardíacos. Só alimentação saudável é amor.

Os programas que os Governos têm vindo a desenvolver em parceria com entidades académicas e empresariais fazem diferença?
Eu sei que sim. Vi os resultados de programas de combate à obesidade em 30 países, incluindo Portugal, e o impacto na obesidade infantil tem revelado uma taxa de sucesso impressionante. E o sucesso deve-se sobretudo ao envolvimento de muitos parceiros, desde os governos, à saúde, educação, à indústria alimentar no alcance de objectivos sustentáveis a longo prazo que requerem a colaboração estreita entre todos eles. E uma conclusão que retiro é que os programas cujos relatórios revelam melhores resultados são os que têm como aliados a indústria alimentar, que aposta na saúde dos consumidores o que acaba por lhes ser favorável em termos de mercado.

Estes programas permitem ter resultados a curto prazo?
Sim. Os que eu conheço revelam resultados imediatamente

QUEM É MIRIAM STOPPARD
Médica, especializou-se, desde 1970, nos temas da gravidez, parto e pediatria. Autora de inúmeros livros sobre saúde, Miriam Stoppard afirma que quer dar toda a informação disponível às famílias para criarem crianças felizes. Presença assídua na televisão inglesa em programas de medicina e saúde. Cronista habitual em jornais britânicos, veio a Portugal a convite da Nestlé para moderar um debate no Congresso de Nutrição, no Porto.

Fonte: Pais e Filhos

04 janeiro, 2011

2011 ... ano de desejos realizados!

Que 2011 seja para todos/as nós um ano de muitas metas alcançadas, muitos sonhos tornados realidades, muitos desejos atingidos, muitos pequenos grandes acontecimentos que nos levem a valorizar o que realmente tem valor, o que realmente importa ...

Que 2011 seja um ano de muitos, felizes, plenos e poderosos nascimentos...de bebés, mães e pais empoderados e decididos!

Que 2011 seja um ano de pequenas grandes mudanças que levem todos/as a um melhor e maior respeito pelo/a outro/a, pela mulher - grávida e não grávida -, pelo homem - futuro pai - e pelo bebé, por todos os bebés...os que já nasceram e os que ainda estarão para chegar!

Que 2011 seja apenas e tudo o que mais desejarem...